terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Garota da Rua à Direita pt. 2

                                    por Lely Finnegan


É lógico que eu sabia o que estava fazendo, tinha a clareza de que aquilo era errado, mas se tornou como um vício para mim, sair de casa todos os dias pontualmente e saciar a vontade que me deixava inquieta o dia inteiro.
Na minha cabeça passavam vários pensamentos enquanto eu caminhava acelerando cada vez mais: “Como eu não consigo me controlar? Talvez eu devesse contar para meu marido, com certeza ele me algemaria no pé da cama durante uma semana e caso isso não fosse suficiente, ele colocaria grades e cadeados por toda a casa...”.
Durante o dia eu era uma dona-de-casa como qualquer outra, cuidava do meu marido, mantinha tudo limpo e organizado, preparava comida, recebia amigas em casa para fofocar, fazia compras... Enfim, eu estava acima de qualquer suspeita, mas todos os dias às 16h30min eu tinha que sair de casa.
Colocava um vestido bonito e fresco, que, aliás, eu tinha dezenas, penteava o cabelo, colocava uma sandália baixa e saí. Sempre que eu fechava o portão de casa atrás de mim, pensava: “Será que algum dia isso vai terminar?” e seguia em frente, caminhava pelas ruas sem olhar muito para os lados evitando me sentir mais culpada ainda.
Naquele dia eu senti uma coisa muito estranha, por cada rua que eu passava, ela parecia espremer meu corpo e todas as pessoas na rua pareciam me observar e intimidar. Comecei a achar que estava sendo seguida, mas não mudei meu trajeto, apenas acelerei o passo e olhava para trás todo instante.
Quando cheguei ao meu destino me senti aliviada por ninguém estar por perto para me ver entrar, respirei fundo e bati à porta vermelha com maçaneta dourada que estava fechada a minha frente.
Alguém atendeu: um homem alto, forte e com cara de poucos amigos, me fez algumas perguntas e em seguida me deixou entrar, pôs-se porta a fora a fim de ver se havia alguém na rua e em seguida entrou fechando a porta com uma batida forte, porém silenciosa.
Um corredor enorme à minha frente, três portas do lado direito, todas fechadas, duas portas do lado esquerdo, também fechadas e no final do corredor uma escada em caracol.
Segui em frente na direção da tal escada, olhei para trás e vi o homem alto parado perto da porta de entrada, ele media meus passos como se vigiasse pra onde eu ia. Continuei meu trajeto observando as portas laterais feitas de madeira maciça e com nomes escritos em placas pregadas em cada uma delas.
Subi a escada, degrau por degrau, ela terminou em frente à outra porta como as portas do corredor, ela também tinha uma placa pregada com um nome muito familiar para mim. Dei três batidas fracas na porta e rapidamente uma moça jovem e de boa aparência atendeu com um sorriso no rosto, ela estava feliz por me ver mais uma vez.
Entrei e quando fechei a porta, minha vida parou ali.

( Continua )

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