segunda-feira, 7 de março de 2011

Arrombando a porta dos armários

                                        por William De Lucca.


              Só quem é gay (ou LGBT, pra ser politicamente correto) sabe o quanto é difícil fazer o outing, ou seja, sair do armário da hipocrisia para um mundo heteronormativo hostil e que não respeita a diversidade. Muitos passam a vida vestindo e trocando as mascaras da conveniência e nunca abrem o jogo sobre sua orientação sexual, nem com seus amigos mais próximos. Uns não abrem o jogo nem pra si mesmos. Este medo (justificável, é verdade), talvez seja um grande impeditivo para a visibilidade e os avanços dos diretos dos LGBTs no Brasil.

              A argumentação dos que falarão contrariamente ao chamado para que arrombemos as portas dos armários tem seus méritos. A sexualidade (e sua orientação) é um aspecto da vida privada de cada um, e ela deve manter-se neste âmbito, de acordo com o desejo de cada um. O que proponho aqui é um chamado aos que são bem resolvidos em relação a sua sexualidade e em como expressa-la. Também deixo claro que em alguns ambientes, as demonstrações deste tipo são temerosas, mas o risco existe em qualquer lugar, até nos ambientes mais amigáveis aos homossexuais.

              O cineasta americano Michael Moore, em seu último filme, Sicko, fez um comparativo sobre a vida das pessoas com deficiência física nos Estados Unidos e nos Países Escandinavos. Ao chegar a Suécia, Moore ficou impressionado com a quantidade de pessoas com algum tipo deficiência física nas ruas, e foi questionar as autoridades locais sobre uma possível guerra ou surto de uma doença generativa. Ele descobriu que, na verdade, apesar de parecer em número muito maior nas ruas, a cidade tem um número de deficientes muito menor do que qualquer grande cidade americana, mas com uma diferença: eles saem nas ruas, são vistos. Eles existem.

              A passagem ilustra meu ponto: gestos de afeto em público ajudam as pessoas a verem casais homossexuais como ‘normais’, mesmo dentro de um ambiente heteronormativo. Nós temos que existir, que marcar território, e gritar, silenciosamente, que estamos ali. Como diria meu pai, ‘quem não é visto, não é lembrado’. Respeitando os limites que todos nós gostamos de ver respeitados, já que hoje em dia casais heteros estão transando e se amassando em todos os cantos, nós, comunidade LGBT, devemos dar o exemplo, demonstrando publicamente nosso afeto, sem desrespeitar ninguém.

              Andar de mãos dadas nas ruas, mesmo das cidades pequenas, dar um beijo carinhoso no namorado no restaurante, abraçar a namorada na fila do cinema, apresentar o ficante como ficante mesmo, e não como ‘amigo’. São pequenas ações que dão visibilidade a diversidade. São pequenas ações que demonstram que existem LGBTs em todos os cantos, de todos os jeitos, e que a homofobia, a intolerância e o preconceito não têm vez contra uma multidão que luta pela diversidade, pelo respeito e pelo amor.



De Lucca é um amigo meu que só tive a oportunidade de conversar através da internet por um espaço de tempo razoavelmente curto, mas sempre me toca com as coisas que escreve. Dono de um carisma sem igual e de um ponto de vista fantástico, esse cara já me ouviu muito, ou melhor, leu muito. 
                            Origem da postagem: Blog do Delucca

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