domingo, 6 de março de 2011

A Garota da Rua à Direita pt. 4

                       por Lely Finnegan


Certo dia, eu estava cuidando da minha casa, mantendo tudo limpo, quando meu marido chegou a casa bem mais cedo do que o normal. Na mesma hora eu estranhei, sabia que tinha algo de errado, mas de início fiquei com medo de perguntar já que ele é um homem bem mal humorado e se irrita por qualquer coisa.
Depois de um tempo que me dei conta de que com ele em casa eu não poderia sair para o meu compromisso habitual e comecei a ficar nervosa, deixei pratos caírem no chão, guardei algumas coisas nos lugares errados e quando ele percebeu o que eu estava fazendo, nós discutimos.
Entre gritos e lágrimas eu só pensava em como eu odiava aquele casamento arranjado e como queria ter liberdade para fazer da minha vida o que eu bem entendesse. Meu marido era do tipo de policial corrupto que não admitia que lhe faltassem com o respeito e nem mesmo eu poderia levantar a voz para ele.
A discussão se prolongou por cerca de quinze minutos, mas me pareceu uma eternidade ouvir seus gritos de que eu era uma mulher ingrata e preguiçosa. Às vezes, sozinha, eu me perguntava por que eu nunca tive um filho com ele, mas nessa hora me veio a resposta.
E então ele deu o ultimato:
— Se você não estiver satisfeita com todo o luxo que eu lhe dou para ficar dentro de casa sem fazer nada, é só sair por aquela porta e não voltar nunca mais.
Mas eu sabia que se eu saísse naquele momento, eu não teria para onde ir e que ele não me deixaria em paz onde quer que eu fosse. E resolvi me calar e aceitar tudo concordando com a cabeça até que ele se acalmasse.
Quando os ânimos se acalmaram e a poeira baixou, resolvi recolher os cacos dos pratos que deixei cair no inicio da briga e quando me inclinei para baixo ele apareceu de novo na cozinha e ficou me observando. Como eu não esperava que ele estivesse ali parado, levei um susto quando me levantei e o vi atrás de mim. Na mesma hora me bateu um arrepio e uma sensação ruim me invadiu.
Ele se aproximou com certa lentidão. “Vim buscar um copo d’água” disse com a voz bem mais branda. Eu entendi o recado e peguei a água dentro da geladeira abarrotada de comida e cerveja sem a qual ele não sobreviveria um dia sequer.
Ele pegou o copo da minha mão com o olhar fixo nos meus olhos, bebeu a água e com o outro braço me puxou para si. Nossos rostos estavam colados e eu podia sentir sua respiração fica acelerada. Ainda com os olhos nos meus ele soltou o copo que segurava e o mesmo espatifou-se no chão me fazendo ficar assustada.
Segurou meus cabelos soltos pela nuca e me deu um beijo, sua mão esquerda me envolvia pela cintura e ele me apertava com força. Eu senti então, que ele queria o famoso sexo de reconciliação.
Eu não vou negar que ele era simplesmente incrível na cama, era uma das coisas das quais eu não podia reclamar do meu marido, mas naquele momento eu não sentia vontade nenhuma de transar com ele, porque me incomodava muito o fato de não poder sair aquele dia e de acabar sendo uma prisioneira na minha própria casa.
Uma coisa que não podemos negar é que quando a mulher não está bem psicologicamente, ela não consegue sentir prazer e acaba apenas abrindo as pernas pra satisfazer o companheiro. E foi o que eu fiz naquele dia, mesmo sentindo repulsa e com vontade de chorar, eu deixei que meu marido se satisfizesse com meu corpo enquanto eu me transportava para um universo imaginário e perfeito.

(Continua)

Nenhum comentário: