sábado, 28 de maio de 2011

 Foi como se eu saísse de mim
por alguns instantes, enquanto a água quente caía
e eu fechava os olhos.
Fechando os olhos e abrindo a mente
abrindo a alma.
As gotas tamborilando contra mim e me aquecendo
me fazendo esquecer dos murmúrios fora do box,
da música lenta que tocava no quarto.
Mais tarde eu sabia que aquele momento me voltaria ao ouvir uma instrumental na volta para casa.
Não foi toda a minha vida que passou como um filme
mas os últimos momentos até chegar até ali.
Será que realmente houve vida antes daquilo que eu vivo hoje?
É claro que houve. E foi ela quem passou correndo, quase fugindo de mim
dentro da minha cabeça.
Como uma criança eu contemplava os lapsos de momentos que escorregavam
pelos fios da memória. Os olhos fechados e ao mesmo tempo fixos em algo inexistente à cena.
Não tentava pegá-los, eu sabia que se tentasse me arrependeria.
Hoje, não me arrependo.
- Amor?
A voz me chamou. Chamou pelo sentimento.
Não demorei um minuto para saber o que era.
Mas me pareceram horas.
- Você está chorando?
- Não...
Eu podia sorrir, espontâneamente como tinha sorrido com o gozo de felicidade
minutos antes.
Eu podia sorrir porque era verdadeiro.
- Não estou chorando... - repeti.
E não estava. Tudo estava bem.
Tudo está perfeitamente bem.

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