quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Final Feliz?

Aproveitando a deixa do último post (o final alternativo da Branca de Neve), venho compartilhar as obras de um artista talentoso ao seu extremo. Tão talentoso que chega a ser maldoso. Mas uma maldade a qual estamos acostumados e sendo bombardeados todos os nossos dias. 

Certo dia encontrei uma imagem que me fez ficar um tanto curioso. A imagem era a seguinte: Uma Cinderela (dessas que crescemos assistindo nas produções do Sr. Walt Disney), com todas as suas feições de princesa dos contos de fadas. Mas inusitadamente com metade da cabeça raspada por um barbeador elétrico. Referência à foto da cantora Britney Spears. Fiquei curioso a ponto de pesquisar a fonte de tal desenho e, para a minha surpresa, era a obra de uma exposição em Los Angeles chamada War Dirty Tortures.

Obra do mexicano José Rodolfo Loaiza, um artista visual que delimitou uma nova área dos contos de fadas infantis com imagens da nossa (triste mas bem retratada) realidade. Me fez lembrar um pouco Roy Lichtenstein e Andy Warhol, dois importantes nomes do movimento Pop Art. Mas Loaiza conta com materiais mais atuais: ele satiriza cenas de um cotiano que tem se tornado pano de fundo para nossas vidas. A homossexualidade entra em questão, além do constante uso de drogas ilícitas entre celebridades, escândalos relacionando nomes da cultura pop, obesidade pela influência das redes fast food, moda e alcoolismo, são um dos pontos explorados pelo artista. E se por um lado Warhol nos mostra os sorrisos hollywoodianos de Marylin Monroe e Elizabeth Taylor em cores saturadas, a visão Loaiza mantém as cores originais mas nos apresenta  uma Bela (de A Bela e a Fera) totalmente descolada e atual, uma Alice fã de Nirvana e o Tarzan como um dos maiores fãs (e seguidores) de Bob Marley.

O talentosíssimo Rodolfo Loaiza nos mostra que a Bela Adormecida talvez ande com problemas para dormir, que a Branca de Neve esteja um pouco acima do peso, que Hércules e Aladdin não precisam mais salvar princesas e que a Cinderela trocou o sapatinho de cristal por algo mais atual e sua fada madrinha deve ser a mesma da Lady Gaga. É uma arte deliciosa e que muitos alegam "acabar com a infância de qualquer um". Falar isso é um ato de blasfêmia! Não acaba com a infância, mas nos mostra que nossas vidas agora é cercada de vaidades e lixos comerciais que somos obrigados a digerir todos os dias. E Loaiza vem para retratar de uma forma cômica esses dias de cão. 

Disasterland, como é chamado o projeto do artista, tem recebido as mais variada críticas desde que foi posto à público em Agosto de 2012. "Disney para adultos", "Disney Desencantada" e "Pinturas com o potencial de perturbar seriamente os fãs do cinema" são algumas das resenhas que encontrei em alguns sites sobre Loaiza. E que na verdade, de desencantada a obra nada tem. O trabalho de Loaiza só nos mostra o quanto crescemos para nos tornar humanos. Nos faz reconhecer uma Mulan como protagonista do filme Kill Bill, e parar para pensar que essas princesas nada mais são do que o reflexo de nossa inocência perdida. Rodolfo Loaiza pode não ser o próximo Andy Warhol, mas ele conseguiu traduzir exatamente a nossa sociedade apocalíptica e perversa. Traduziu como somos escravos das mídias, das grandes produções e de uma falsa sensação de liberdade. Quando na verdade, estamos todos presos nesse conto de horror, lutando pelo tão esperado final feliz.
















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