segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Não há encaixe


Não há encaixe. Nós não fomos feitos para dar certo, é o que eu penso. Comecei a confabular essa ideia de uns meses para cá. Não há par ideal, não existe a pessoa certa, e céus!, como poderíamos achar que teríamos sido essas pessoas? Nós não somos peças feitas para montar um quebra-cabeça, não nascemos com uma engrenagem que acopla um outro sistema. O nosso sistema será sempre falho enquanto nosso coração bater. E enquanto não nos acostumarmos com a ausência de algo que juramos ser essencial, não seguiremos em paz. Não há encaixe. Não há vagas.


O coração não é uma casa vazia esperando para ser ocupada. Ninguém está de mudança para lá. Não existe uma porta e não tem ninguém batendo. A solidão é criada pela ilusão de que precisamos de outro alguém para sermos felizes. Que tal ser feliz com nós mesmos? Que tal ficar feliz por nossos atos e parar de esperar que um príncipe, uma princesa ou um vampiro apareça e mude tudo? Mas nunca estamos satisfeitos.


E insistem em tentar nos fazer acreditar nessa pseudo-necessidade de que existe a tal alma gêmea.  A metade da laranja já foi espremida ou se quer existiu. Assim como a tampa da panela e qualquer outro nomezinho popular que jogaram para dentro de nossos corpos para que acreditássemos que essa vontade de ter algo é normal, é bonita,é qualquer coisa. Agora só existem cadernos rabiscados com duas iniciais, cartas guardadas em gavetas, fotos que machucam só de olhar, palavras que nunca foram ditas e que talvez nunca serão. Fomos enganados. Nos venderam a ideia errada e não existe devolução. Nos venderam programas de TV, filmes no cinema, histórias em livros, letras de músicas, poemas, sites, imagens compartilhadas... E em tudo isso impregnaram a mentira de que fomos feitos com um par.


Falaram de amor eterno em música, escreveram sobre paixão num livro, criaram datas para celebrar essas falsas uniões. Só esqueceram  e acho que nem se deram ao trabalho de lembrar   de avisar que não há encaixe. Não há data de vencimento, mesmo que a de fabricação agora se torne sempre uma memória ínfima. Não há volta ou lavagem cerebral que desfaça o nó dessa confusão criada pela mentira de que há alguém do outro lado. Nos esqueceram de dizer que agora somos inseguros, rabugentos, intolerantes, desconfiados... Mas não assinamos um contrato para que possamos reclamar a garantia. E quando tentamos voltar para devolver, e ver se dá pra viver com pelo menos um pouco de amor próprio, damos de cara com a placa: NÃO HÁ VAGAS.

Rafael Amorim

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