domingo, 20 de janeiro de 2013

Sobre o assalto


Fui assaltado e levaram meu celular.
Levaram talvez um pouco mais que isso, e me deixaram algo que carrego comigo desde sábado a noite: uma terrível sensação de impotência.

Era um cara, desses que estamos (não deveríamos estar) acostumados a reconhecer como cracudos. Não se vestia mal, e aparentemente só me pediu dinheiro. Vendo que eu não o tinha de verdade, colocou a mão no meu bolso e levou meu celular. Saiu como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu.

Aquele papo de que antes o celular do que a vida só funciona na hora do desespero e do alívio por estar vivo. Por que depois que passa deixa a cabeça da gente num nó. Deixa a nossa existência a mercê de mentes vazias e perigosas que não têm perspectiva alguma do que seja a vida além de uma pedra de craque ou qualquer outra droga.

A sensação de impotência ainda me assola como assolou da última vez em que fui assaltado (há dois anos). Aquele tipo de sentimento que não te deixa dormir na noite do ocorrido, e que te dá um pouco de pânico ao olhar para a rua pela janela e imaginar o que, ou quem estará te esperando lá fora quando você sair de novo.

O celular era velho, um desses Motorola jurássicos como costumo chamar. Mas era meu, e o levaram. Tiraram de mim algo que me era útil e talvez necessário. E mesmo que tenha sido algo material, ainda não me conformo com tal atitude. Já desejei a morte do sujeito, depois me arrependi. Voltei a desejar, e da pior maneira possível. Não por ter levado algo meu, mas por ter me deixado nu de alma, frágil. Por ter me feito sentir o mais incapaz dos seres humanos. Por me fazer ver que muitas das vezes estamos todos presos num grande cárcere à mercê desse tipo de gente e que nada é feito para mudar.

Em casa ou com os amigos não tenho tido muito tato e vontade para falar sobre isso. Feriu meu orgulho, e continua a ferir. Nós superamos. Claro, é preciso. Não há o que se fazer a não ser contar com a sorte de que não volte a acontecer. E caso aconteça novamente, implorar para que dessa vez não levem também a minha dignidade. 

Um comentário:

Jane C. disse...

Oi Rafa.
Em primeiro lugar,fico feliz que não tenham te agredido fisicamente.Infelizmente,nesses casos,isso é lucro.
O Rio de Janeiro volta e meia joga essas coisas na nossa cara:o quanto estamos impotentes,o quanto somos reféns do medo.Quando escolhemos a posição da bolsa pra evitar furtos,quando deixamos de passar por tal rua porque é perigosa,quando nos impomos um toque de recolher porque depois de tal hora estaremos vulneráveis...Renato Russo disse há anos que os assassinos estão livres e nós não estamos.E essa frase continua atual.Assassinos roubando vidas,ladrões roubando coisas que são importantes não por serem um telefone ou uma carteira,mas porque são resultado do nosso suor,do quanto trabalhamos para nos proporcionar alguma coisa de boa.Esses infelizes têm a mesma oportunidade de lutar pelo que querem,mas preferem nos levar nossos bens, entre eles os não-materiais:a tranquilidade,a paz e a dignidade.
Nestas horas,não há muito o que dizer a você,exceto desejar que estejas bem e supere mais essa, e o alívio por saber que não te machucaram.
Beijos,e força sempre.