domingo, 27 de janeiro de 2013

Sunday Bloody Sunday


O domingo acordou mais cinza ou foi impressão minha? 
É incrível como a morte mobiliza e as vezes para todas as nossas vias. As redes sociais hoje não falam de outra coisa a não ser a tragédia na boate no município de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. E quero desconsiderar qualquer brincadeira ofensiva com esse assunto. Não é algo com que possamos brincar ou quebrar a tensão. Estamos tensos, estamos desarmados. Pelo menos eu estou. 

Há quem diga que pessoas morrem todos os dias e ninguém fica de luto por isso. Acho esse tipo de pensamento horroroso. Achar que esse luto é algo para aparecer ou estar na moda é simplesmente ofensivo. Não acreditar na sensibilidade do ser humano para com 232 vidas  é no mínimo uma forma idiota de se pensar. Não importa mais quantos amigos no Facebook você tem, ou se o seu Tumblr ou Twitter é badalado e você cita poetas que nem conhece a biografia. Não importa se você é legal, se te acham o máximo, se seu blog tem mil visualizações. Esses tipos de futilidades a qual damos tanta importância todos os dias nada quer dizer hoje. 

Não gosto de imaginar o desespero das pessoas que estavam ontem naquela boate. A TV faz o infeliz favor de me noticiar isso a todo o instante. O pavor dos que sobreviveram, o desespero dos que não conseguiram sair. E a incredulidade dos seguranças que por um momento tentaram impedir a multidão de sair sem pagar. Não gosto de imaginar que 232 pessoas pagaram sim. Pagaram com suas vidas. Pagaram com seus familiares, que enquanto escrevo e você lê, estão inconsoláveis e buscando conforto e ajuda de onde vier. É lastimoso, não gosto de pensar.

Santa Maria foi o lugar. Mas poderia ter sido em qualquer estado, inclusive aqui no Rio. 232 pessoas que eu não conheci, mas poderia ter conhecido. Poderiam ter sido amigos meus, familiares ou até mesmo eu. E agora como estaria minha mãe? Como estaria meus amigos que sobreviveriam? Como estaria você? Esse não é o tipo de acontecimento que possamos levar algum aprendizado. Não ouça se alguém falar "Viu? Isso é para você que fica frequentando boates" ou "Devia estar na igreja ou em casa, tria sobrevivido". Peça que a pessoa não fale mais nada. Não há mais o que falar.

O luto é uma maneira de nos sentirmos prestativos de alguma forma, já que não podemos fazer algo que está ao nosso alcance nessas horas. A sensação de que há algo muito errado nesse domingo pode continuar durante os próximos dias, por que sim, há algo errado. Vidas foram tiradas, famílias foram desfeitas, sonhos foram quebrados facilmente como uma garrafa de vidro. Dói um pouco ver que a vida é uma questão de segundos. Que a lei natural das coisas é essa: uma hora você está sorrindo, e na outra não há mais nada para o que sorrir. Uma hora vamos sorrir novamente, a vida é feita de sorrisos. Mas não agora. Aquela pequena faísca que nos faz prosseguir diante de tantas situações ruins parece estar se apagando aos poucos. Nós sabemos que ela vai voltar a ascender dentro da gente, só não conseguimos nos sentir bem com vida enquanto tanta gente a perdeu. Chega a ser culposo. 

Domingo, 27 de janeiro de 2013. 
Nós sobrevivemos ao que os Maias acreditavam ser o fim da nossa espécie. Mas um fim do mundo está acontecendo no interior de muitas pessoas agora. Muitos apocalipses já começaram para as vidas sobreviventes e agora estamos tentando entender o que realmente significa sobreviver. Sobreviver, respirar, entrar em casa... Essas coisas, que a principio são simples, nesse momento me parecem o nosso maior bem. E mesmo que seja, nós nunca paramos para apreciá-las como 232 pessoas jamais poderão fazer isso novamente.


I can't believe the news today
I can't close my eyes and make it go away
How long, how long must we sing this song?
There's many lost, but tell me who has won?

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