segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Meu namorado é um zumbi

Fazia um tempinho que eu não dava as caras no cinema. Ainda tenho uma lista de filmes para assistir, entre eles Os Miseráveis e João e Maria Caçadores de Bruxas. Mas hoje comecei com Meu Namorado É Um Zumbi. E não me arrependo. Não que eu esperasse tal arrependimento, mas confesso que no princípio fiquei um tanto quanto receoso com a história.

Passei por duas fases antes de assisti-lo hoje. A primeira foi a do medo: quando soube que o filme ia ser lançado, fiquei com medo de ser uma verdadeira porcaria. Onde já se viu, um vampiro se apaixonar? Na época lembro de ter pensado que estavam levando a ideia Crepúsculo bem a sério. A segunda fase foi a da ansiedade: depois de assistir o trailer e entender que havia humor na história fiquei mais tranquilo e até ansioso para assistir, afinal, no trailer tudo estava perfeito... elenco, música, até as tiradas cômicas.


A história é narrada do ponto de vista de um zumbi que não lembra o próprio nome, R (Nicholas Hoult) que "vive" a monotonia de uma cidade destruída  por uma epidemia que exumou a população e convence-se de que é diferente dos outros mortos por possuir pensamentos nostálgicos sobre seu passado. A quase vida de ócio de R muda quando seu grupo de caça ataca um grupo de sobreviventes, de onde Julie (Teresa Palmer) faz parte. Após atacar o namorado de Julia e comer seu cérebro, os pensamentos e sentimentos do rapaz são transferidos ao zumbi. A relação entre eles se torna precária pois o pai da mocinha é o genetal Grigio (John Malkovich), que está a frente da parcela viva da população e quer exterminar o restante. Não preciso contar o resto da história para dizer o que acontece, o filme é bastante previsível. 

Mas apesar de previsível, sai do cinema sem saber sua temática. Algumas fichas técnicas indicam o gênero como suspense, mas na minha opinião vai muito além disso. Passa da comédia e quase estaciona no romance. É um filme trash, me lembrou muito o Little Nick - Um Diabo Diferente. O que não o torna ruim, pelo contrário, é um filme leve e despretensioso.

A história em si trás uma analogia com a nossa sociedade em uma das primeiras cenas do protagonista. Mostrando o mundo antes da epidemia em um saguão de aeroporto, onde as pessoas passam umas pelas outras sem se notarem com seus celulares nas mãos. E no futuro zumbi, elas continuam a caminhar sem notar ninguém, dessa vez mortas. A ideia do filme talvez tenha sido de fato o romance quase impossível entre os dois personagens, mas mostrar como pano de fundo no que a nossa atual sociedade se tornou sem precisar de um apocalipse de verdade foi uma jogada e tanto para quem entende as entrelinhas.

Não é um filme para se comparar. Se você vai ao cinema para fazer a comparação com as histórias de zumbis atuais, como a série The Walking Dead ou comparar o romance, desista. São direções e métodos diferentes. Meu Namorado É Um Zumbi é o divisor de águas de quem gosta de um bom filme e quem não entende o que está vendo. Mesmo que exista alguns elementos parecidos, e não notá-los seja inevitável, comparar torna o filme sem sentido. Entretanto, o romance quase impossível é digno dessa temática monstro ama a mocinha. Só que dessa vez, para o nosso alívio, não vamos contar com as fãs adolescentes histéricas dentro do cinema.

É um filme trash, não vai ser indicado ao Oscar, mas vale a pena assisti-lo e não esperar passar nas telas quentes da vida. O conjunto que compõe a história é convidativo e gostoso de se apreciar. Em especial a trilha sonora, que é sem dúvida uma das que eu vou ter em meu computador daqui à umas semanas. Em algumas cenas eu pude jurar que começaria a tocar Bones do The Killers, que mesmo clichê com o tema do filme, me parece adequada a algumas sequências. Contudo, a trilha original não deixa por menos e trás baladas dos anos 60 até os tempos atuais. Nomes como Bob Dylan, Jimmy Cliff, Scorpions se misturam com Feist e Bon Iver em sequências que pedem as músicas de tais. É sem dúvida uma trilha sonora insuperável. 

O que torna Warm Bodies (título original) diferente (e muito melhor) que Crepúsculo é a ausência do apelo para o romance e de um possível feminismo na trama, deixando a mocinha visivelmente desprotegida diante de uma nação de zumbis. É essa ausência de inovação e a presença dos clichês que as novas produções tentaram nos fazer esquecer onde Jonathan Lavine (diretor) acertou a mão. Ele não só eliminou a pieguice do romance, mas fez com que o assunto zumbi, que tem sido tão popular ultimamente, se encaixasse numa produção tão boa quanto qualquer outra que trate do pós apocalipse. Muito além dessa temática monstro ama mocinha, está o romance proibido entre dois jovens. A família dela quer matar ele, e a família dele quer comer a dela. Ele aparece enquanto ela está na sacada de sua casa... R e Julie, qualquer semelhança não é mera coincidência.

Ficha técnica:
Diretor: Jonathan Levine
Elenco: Dave Franco, Teresa Palmer, Nicholas Hoult, John Malkovich, Analeigh Tipton, Rob Corddry, Cory Hardrict, Rochelle Okoye, Patrick Sabongui, Keeva Lynk, Ruth Chiang, Justin Bradley, Diana Laura, Ayisha Issa, Arthur Holden, Dawn Ford, Tod Fennell, Marcello Bezina, Daniel DiVenere, Geneviève Joly-Provost, Claudia Tiseo, Mizinga Mwinga, Jan Pivon, Qamar Abbas, Felix Bergeron, Christine Rodriguez, Eric Daniel, Elodie-Lorie Jean, Abdul Ayoola, Anne-Sophie Bozon, Irma Evangelista, Jennifer Herrera, Vincent Leclerc, Sylvia Stewart
Produção: David Hoberman, Todd Lieberman, Bruna Papandrea
Roteiro: Jonathan Levine
Fotografia: Javier Aguirresarobe
Duração: 98 min.
Ano: 2013
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Mandeville Films / Summit Entertainment
Classificação: 10 anos


Um comentário:

Alegria. disse...

Sua resenha diz tudo! está ótima, assim como o filme!