quarta-feira, 24 de abril de 2013

Teus Olhos Meus

Dia desses, estava procurando alguns filmes para assistir e matar o tempo. Me lembrei que havia uma lista de produções que estiveram no Festival do Rio e me deparei com um título de 2011, Teus Olhos Meus. A princípio, a sinopse me pareceu um tanto clichê, mas a curiosidade foi maior e dei o play.

O longa brasileiro, escrito, dirigido e produzido por Caio Sóh, mostra a vida e os conflitos de Gil (Emílio Dantas) e Otávio (Remo Rocha), que têm suas vidas entrelaçadas por conta de diferentes situações. Gil, 20 anos, criado pelos tios, leva uma vida baseada em poesia, música, cigarros e álcool. E é esse estilo de vida que causa uma guerra familiar, fazendo o garoto ver reflexos disso em seu namoro com a jovem Carla (Juliana Lohmann) e o obrigando a sair debaixo do teto de seus tios. No outro extremo da história, está Otávio, um bem sucedido produtor musical, que vive um relacionamento de desconfianças com seu parceiro, Carlos (Cláudio Lins) e se vê tão perdido quanto o adolescente com quem esbarra em seus devaneios. A partir daí, Gil e Otávio constroem uma relação de dar inveja a todos que assistem ao filme. O que falta em um é completado pelo outro e assim, de uma forma simples, a relação de amizade entre os dois passa a se consolidar, até chegar ao derradeiro final.

É um filme oscilante. Com cenas bem sólidas e outras que só poderiam acontecer nas linhas de uma poesia bem feita. Mas se por um lado a simplicidade de tal produção ajuda a entender o universo dos personagens, por outro, deixa a desejar no desenrolar da trama. Fazendo o espectador entender o título só nos últimos minutos de filme. A trama se estende um tanto quanto clichê até alguns minutos antes do final, e mesmo assim não dá para desgrudar os olhos da tela. O final é um caso a parte, tão parecido com o de um curta, dando o que pensar quando os créditos aparecem. Faz do longa uma boa produção que não levanta bandeiras e que, mesmo sem recursos sofisticados, passa a ideia de poesia a cada diálogo.

Tão diferente de produções que estamos acostumados a assistir, Teus Olhos Meus consegue se consolidar com um bom roteiro muito mais promissor que o polêmico (e incestuoso) Do Começo Ao Fim (2009). Prova de que o patrocínio e a produção são adjuntos que não importam tanto quando se tem uma boa ideia no papel. O diretor Caio Sóh, que até então só havia produzido curtas, contou com a ajuda de amigos que aceitaram não receber cachê para filmar e partiu com tudo para dentro da história com uma câmera na mão, gerando alguns cortes bruscos e áudio confuso. A princípio, os poucos recursos incomodam nossos olhos críticos, portanto, deixam o filme com o clima que deveria ter. 

Teus Olhos Meus foi exibido no 4º Los Angeles Brazilian Film Festival, em abril de 2011 e tem a trilha sonora assinada pela cantora Maria Gadú, que até faz uma participação como ela mesma em uma das cenas. Cada elemento do longa nos transporta para dentro e nos faz acompanhar a história bem ao lado dos personagens, amando uns e odiando outros. Sem querer parecer prolixo, é um filme oscilante em todos os aspectos e que desperta sensações. E este deveria ser o maior requisito para que uma produção fosse considerada boa. Afinal, carecemos de trabalhos com esse nível de qualidade, que acrescentam não só no circuito cinematográfico, mas em nossas vidas.

FICHA TÉCNICA

Teus Olhos Meus (Soulbound)
Direção: Caio Sóh
Elenco: Emílio Dantas, Remo Rocha, Paloma Duarte, Roberto Bomtempo, Cláudio Lins, Jayme Matarazzo, Graziella Schmitt, Juliana Lohmann;
Trilha Sonora: Maria Gadú, Maycon Ananias e Aureo Gandur; 
Diretor de Produção: Bia Basílio; 
Diretor de Fotografia: Othon Castro; 
Produção de Designer: Junior Paixão, Ana Luisa Santanna, Joana Mendonça; 
Produção Executiva: Luana Lobo; Assistant Director: Daniela Rebello; 
Gênero: Drama.
Duração: 105 min.
Ano: 2011
País: Brasil
Escrito e dirigido por Caio Sóh.

Nenhum comentário: