terça-feira, 5 de março de 2013

Colegas


Pense na história: três jovens fogem de um instituto e viajam pelo país em um carro roubado e assaltando lojas para continuarem abastecidos de comida e roupa. A polícia atrás deles - o que dá ao filme cenas de perseguições a lá Tarantino -  por estarem fortemente armados (com armas de brinquedo) e cada um em busca do sonho da sua vida. Pensou? Então acrescente ai Síndrome de Down nesses três jovens. Acrescente também uma produção brasileira com nomes como Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Marco Luque e Juliana Didone. Depois de tudo isso, a imagem ficou boa em sua mente? Sim, a imagem sim, mas o filme passou longe.

Colegas, filme dirigido por Marcelo Galvão,conta a história três jovens Down decidem fugir do instituto o qual fazem parte para seguir seus sonhos. Stalone (Ariel Goldenberg) sonha em ver o mar, Aninha (Rita Pokk) deseja casar-se e Márcio (Breno Viola) quer voar. Inspirados em famosas produções cinematográficas, os três roubam o carro do jardineiro e, durante a jornada, se deparam com situações que põe a prova o quanto estão disposto a seguir seus sonhos.

É uma produção cansativa e parece que a inclusão de atores com Down não torna o filme menos razoável. Em certos momentos, no decorrer da história, ainda tem-se a esperança de que algo salvará toda uma produção falha. E até temos uma ou outra cena que descontrai toda essa bagunça que ficou o filme, mas ainda assim não é o suficiente para desconsiderar os erros gravíssimos. Ainda consegue-se salvar algo no quesito Direção de Arte, o enfadonho problema foi o desencontro da coerência. Em certas cenas dá para jurar que o filme se passa na década de 70 e na de 80, com direito a aparição de Raul Seixas, até algum personagem citar falas de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite. E esse desencontro gera um imenso conflito na mente de quem assiste, a ponto de precisarmos parar e raciocinar se há algo de errado,perdendo alguns minutos do que está passando na tela.

Boa parte do cansaço se dá pela narração de Lima Duarte, que deixa tudo como uma grande fábula. O filme em si dava conta de se auto explicar sem precisar de uma narrativa que o deixou com cara de filme infantil. A narrativa só compete com a atuação da polícia no quesito cansaço. As cenas são contadas através do ponto de vista dos jovens e dos policiais que estão em sua busca, tornando desnecessariamente, o apoio policial numa grande piada, uma vez que o elenco principal já se encarregue de nos tirar boas e sinceras gargalhadas. Essa força desnecessária do tom cômico nas cenas policiais não chega a ter nenhuma conclusão quando as luzes se apagam e o filme termina. Muitas coisas ficam soltas no ar, inclusive o questionamento se deveria ter ido assistir a outro filme.

De todo modo, salva-se as atuações do trio principal, que independente do problema da compreensão na fala, passa a credibilidade para o público. Um trio que dá o toque especial na comédia, no drama, e até nas cenas de assaltos e perseguições. Além da trilha sonora concisa que embala o longa. A sequência final dá um pouco de alívio e mostra que não foi tudo uma grande perda de tempo, embora os pontos negativos gritassem dentro de mim quando sai do cinema. Gosto do caos que os protagonistas incutem sobre a cidade... Acho interessante visto do ponto em que, no final, já estavam mandando equipes de atiradores de elite para capturá-los. Mostrando assim, o tão conhecido medo que o ser humano tem do desconhecido.

Não gosto de escrever críticas negativas sobre filmes. Talvez pelo fato de querer que o leitor se delicie com a crítica e vá logo tirar suas próprias conclusões. Com a crítica negativa, temo por gerar um desânimo do outro lado da tela e acabar contaminando a opinião alheia. Mas não há nada que eu possa fazer. O filme tem potencial para ser indicado ao Oscar, recebe prêmios no exterior, vence festivais, mas deixa a desejar em vários quesitos, tornando-se assim, uma sucessão de equívocos na grande tela.

Colegas ganhou o prêmio de público do 27º Festival del Cinema Latino Americano di Trieste, na Itália, também levou o prêmio de melhor filme no festival de cinema International Disability Film Festival Breaking Down Barriers na Rússia, além de ter sido exibido no Red Rock Film Festival, nos EUA e foi o grande vencedor da última edição do Festival de Gramado, levando Melhor Filme, Melhor Direção de Arte e Prêmio especial do Júri. Merecido? Em partes. Não sou o melhor crítico de cinema para julgar o trabalho do Marcelo Galvão. Mas quando uma produção, que se dispõe a ter atores com Down, mostrando que a vida deles é tão repleta de sonhos e vontades quanto a nossa (não portadores da síndrome) se deixa ter muitos equívocos visíveis, a mesma se torna presa fácil perante a grande exceção de expectativas das críticas ruins.

Ficha técnica
Diretor: Marcelo Galvão

Elenco: Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola, Lima Duarte, Rui Unas, Deto Montenegro, Leonardo Miggiorin, Marco Luque, Juliana Didone, Christiano Cochrane, Alex Sander, Amélia Bittencourt, MarceloGalvão, Maytê Piragibe, Monaliza Marchi, Daniele Valente, Nill Marcondes, Pedro Urizzi, Roberto Birindelli, Elder Torres, Oswaldo Lot, Alexandre Tigano, Theo Werneck, Carlos Miola, Giulia de Souza Merigo, Simone Teider, Anna Ludmilla, Simone Teider
Produção: Marcelo Galvão, Marçal Souza
Roteiro: Marcelo Galvão, Ricardo Barreto
Fotografia: Rodrigo Tavares
Duração: 103 min.
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Comédia
Cor: Colorido
Distribuidora: Europa Filmes
Estúdio: Gatacine
Classificação: 10 anos

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