sexta-feira, 31 de maio de 2013

Somos gatos


Imagine só, se fôssemos como os gatos. Se tivéssemos as mesmas necessidades dos felinos. Seria, no mínimo, constrangedor. Digo, se quando precisássemos de comida ou atenção, começássemos a roçar nas pernas das pessoas responsáveis por nós. Cheguei a esse pensamento enquanto minha gata esgueirava-se, com seu rabo de escovinha lá no alto e, silenciosamente, começava o ritual de passar por entre minhas pernas até eu notá-la. E este ritual acontece agora mesmo, enquanto escrevo. E provavelmente acontecerá enquanto você estiver lendo e eu estiver fazendo qualquer outra coisa, mas ela estará aqui, com seus olhos misteriosos e forçando sua pelagem rajada contra os pelos da minha perna.

É engraçado esse tipo de comportamento dos felinos. Curioso, até. Mas nós, seres humanos, fazemos algo muito parecido e não nos damos conta. Não ficamos por ai nos enroscando pelas pernas das pessoas a quem queremos chamar atenção ou miando pela casa, mas não é muito difícil notar comportamento parecido quando estamos interessados em alguém. É só ver a pessoa e começamos a fazer o mesmo ritual de sempre para chamar sua atenção. Contamos piadas que já sabemos que fará a pessoa rir, falamos sobre os assuntos que ela lida, para que não se sinta excluída ou diferente, sugerimos filmes e livros que ela ama só para ter algo em comum, e a lista estende-se.

Coisas deste tipo soam tanto quanto um roçar nas pernas alheias, e só quem está de fora percebe o que está acontecendo. Afinal, se os gatos soubessem ler pensamentos, saberiam qual momento os queremos por perto e quando não queremos aquela demonstração de afeto toda. Gatos, às vezes,  são tão oportunos. Assim como as pessoas, assim como nós mesmos. E muitas vezes somos inconvenientes: as piadas não funcionam mais, os assuntos ficaram chatos e os filmes e livros já ficaram ultrapassados. Então entramos no processo de andar pela casa o dia inteiro, dormir um pouco, levantar para comer algo, sentar no computador e “miar” em alguma rede social, dormir mais, reclamar mais, chatear mais.


Porque os gatos são assim; a lealdade deles está com quem os faz bem, e quando isso muda, imagino que seja o fim do mundo para eles. Nunca fui um gato, ou talvez tenha sido em outra vida, e isto explicaria muita coisa. Contudo, acho que esse efeito gato só é bom até a página dois. Nós, seres humanos, desprovidos de qualquer bom senso quando queremos atenção, nos tornamos gatos, e esquecemos que eles são animais livres, que andam pelos telhados da vida, que são independentes e só voltam para casa quando dá na telha. E invés de nos acrescermos de todas essas outras características, preferimos lembrar só da carência por atenção e de miar por ai.  

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