Imagine só, se fôssemos como os
gatos. Se tivéssemos as mesmas necessidades dos felinos. Seria, no mínimo,
constrangedor. Digo, se quando precisássemos de comida ou atenção, começássemos
a roçar nas pernas das pessoas responsáveis por nós. Cheguei a esse pensamento
enquanto minha gata esgueirava-se, com seu rabo de escovinha lá no alto e,
silenciosamente, começava o ritual de passar por entre minhas pernas até eu
notá-la. E este ritual acontece agora mesmo, enquanto escrevo. E provavelmente acontecerá
enquanto você estiver lendo e eu estiver fazendo qualquer outra coisa, mas ela
estará aqui, com seus olhos misteriosos e forçando sua pelagem rajada contra os
pelos da minha perna.
É engraçado esse tipo de
comportamento dos felinos. Curioso, até. Mas nós, seres humanos, fazemos algo
muito parecido e não nos damos conta. Não ficamos por ai nos enroscando pelas
pernas das pessoas a quem queremos chamar atenção ou miando pela casa, mas não
é muito difícil notar comportamento parecido quando estamos interessados em
alguém. É só ver a pessoa e começamos a fazer o mesmo ritual de sempre para
chamar sua atenção. Contamos piadas que já sabemos que fará a pessoa rir,
falamos sobre os assuntos que ela lida, para que não se sinta excluída ou
diferente, sugerimos filmes e livros que ela ama só para ter algo em comum, e a
lista estende-se.
Coisas deste tipo soam tanto
quanto um roçar nas pernas alheias, e só quem está de fora percebe o que está
acontecendo. Afinal, se os gatos soubessem ler pensamentos, saberiam qual
momento os queremos por perto e quando não queremos aquela demonstração de
afeto toda. Gatos, às vezes, são tão
oportunos. Assim como as pessoas, assim como nós mesmos. E muitas vezes somos inconvenientes:
as piadas não funcionam mais, os assuntos ficaram chatos e os filmes e livros
já ficaram ultrapassados. Então entramos no processo de andar pela casa o dia
inteiro, dormir um pouco, levantar para comer algo, sentar no computador e
“miar” em alguma rede social, dormir mais, reclamar mais, chatear mais.
Porque os gatos são assim; a
lealdade deles está com quem os faz bem, e quando isso muda, imagino que seja o
fim do mundo para eles. Nunca fui um gato, ou talvez tenha sido em outra vida,
e isto explicaria muita coisa. Contudo, acho que esse efeito gato só é bom até
a página dois. Nós, seres humanos, desprovidos de qualquer bom senso quando
queremos atenção, nos tornamos gatos, e esquecemos que eles são animais livres,
que andam pelos telhados da vida, que são independentes e só voltam para casa
quando dá na telha. E invés de nos acrescermos de todas essas outras
características, preferimos lembrar só da carência por atenção e de miar por
ai.
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