sexta-feira, 7 de junho de 2013

Palestra com a figurinista Beth Filipecki


Aconteceu nesta última quarta-feira, dia 4, no auditório da faculdade CCAA no bairro do Riachuelo, aqui no Rio mesmo. O burburinho no recinto, alguns minutos antes de começar a palestra, foi grande. Afinal, todo mundo ali estava ansioso pelas palavras da figurinista Beth Filipecki. Eu em particular. Quando fiz meu técnico em Produção de Moda, passei um período inteiro ouvindo sobre os trabalhos de tal pessoa, além de entrevistas dela na TV. Então, citando um amigo, era bom que esta mulher mudasse a minha vida.

E foi incrível. Beth, uma senhora baixinha, dessas que tem cara de vó, elegante e risonha, de uma simpatia sem igual, subiu no palco sob aplausos. Primeiramente dá as boas novas aos presentes: a Faculdade CCAA agora contará com uma pós graduação em Jornalismo de Moda e incentiva os alunos, com um jeito carismático que a acompanha ao longo da palestra.

Beth nasceu no distrito de Santanésia, Sul do estado, e veio para o Rio quando viu que sua paixão era a indumentária. Se em sua terra natal, entrara para a faculdade de letras, uma vez instalada aqui na capital, se forma em Figurino e Cenografia pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Sendo, na época, aluna de Rosa Magalhães e Maria Augusta Rodrigues, dois dos nomes mais importantes que compõe a história do nosso Carnaval. Quando estava se formando, com especialização em indumentária, foi selecionada para fazer parte de um curso de iluminação na TV Globo coordenado pelo cenógrafo e iluminador Peter Gasper. A oportunidade surgiu através de Fernando Pamplona, professor da universidade e cenógrafo, que conseguiu que seus alunos também fizessem a prova seletiva para o curso. Beth foi a única selecionada e, durante um ano, aprendeu fotografia, fundamentos de câmera e vídeo, dramaturgia de luz e sistemas de composição de luz na TV. E antes mesmo que o público possa digerir a informação sobre a vida acadêmica da Srª Filipecki, a figurinista continua mapeando a conversa com nomes que fizeram parte da sua história de trabalho, como o da notável Kalma Murtinho, quem a levou a produzir seus primeiros trabalhos com figurino para o teatro, para uma ópera e para a TV Globo. A partir daí, ganhou a visibilidade no meio. Na década de 80, chegou a trabalhar com peças originais italianas e argentinas, situadas no acervo do Teatro Municipal.

Trabalho é uma palavra que muito saiu de sua boca, prova de que houve muito sor até chegar em sua ascensão. A consequência de toda essa dedicação foi o afastamento dos filhos, hoje com 30 anos, do meio figurinístico. Conta isso com um tom um tanto sério, mas logo descontrai, falando das férias que está tirando e dos planos para o futuro: abrir o olhar com algo que não seja figurino. Não é por menos, em 30 anos de carreira, Beth tem um infinito acervo de produções globais, sendo 15 produções de épocas; entre elas "Os Maias", "Primo Basílio", "Capitu", e a mais recente e muito bem elogiada, "Lado a Lado".

Em um papo descontraído e sem ver a hora passar, Beth conta também sobre as dificuldades que se tem para trabalhar no meio artístico. Enfatiza o quanto era difícil trabalhar com figurino há 30 anos atrás, e cita o próprio exemplo de se ter apenas um livro de indumentária traduzido. Numa época em que a internet não facilitava todo um trabalho de pesquisa, a mulher que passou mais tempo com roupas que com os filhos, viu-se ganhando reconhecimento por seus primorosos trabalhos em uma gama de produções da TV Globo. É claro que, com toda a simpatia e cordialidade, Beth Filipecki não aceita levar o mérito sozinha: enche a boca quando vai falar  muitas das vezes o que acaba se tornando uma teia de elogios  de sua equipe e assistentes. E explica que não vê sentido em trabalhar isoladamente.

Atenciosa com todas as perguntas da plateia, Beth se perde um pouco quando se aprofunda em seus trabalhos na TV, no teatro e no cinema. Diz que a diferença entre produzir para esses três meios é a rapidez com que cada veículo transmite suas produções. Se para a TV, o figurino pode mudar de acordo com a aprovação do público ou alguma exigência do diretor, no cinema essa preocupação não vale tanto pois são olhares diferentes. Comprovando ser vasto o conhecimento da figurinista. Tal conhecimento, é justificado em  uma única frase que não deixa dúvidas quanto a perspicácia de Beth: "Se não tiver conhecimento, você vira camareira de ator. É uma falta de respeito não ter conhecimento."

A hora passou sem que ninguém percebesse, Beth Filipecki agradeceu à presença de todos e após os copiosos aplausos, se retirou. Sair daquele auditório foi difícil, a vontade - minha e suponho de que todos os presentes - era de ficar e ouvir mais e mais, tudo o que aquela mulher tem a falar. Ouvir mais sobre como foi gostoso vestir a vilã interpretada pela Patricia Pillar, em Lado a Lado, ouvir sobre seus métodos de pesquisas para construção de personagens, sobre seus estudos e monografias que ajudaram nesses processos... Em suma, nunca deixar de receber de braços abertos todo o conhecimento que ela faz questão de passar. Porque Beth Filipecki é assim: atenciosa, educada, despretensiosa com todos ao seu redor. É uma profissional exemplar  literalmente estampado em seus trabalhos  e uma pessoa que, arriscando-me a usar uma de suas próprias expressões, fabula mundos.

Fotos: facebook das faculdades CCAA.

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