sábado, 26 de março de 2011

A garota da rua à direita - Parte 6

                                            por Lely Finnegan




       Meus dias eram exatamente os mesmos dos de um executivo, apesar de eu não ser um. Eu era apenas um empregado de uma grande empresa de móveis, meu trabalho era basicamente catalogar tudo o que era criado e comparar com os produtos da concorrência.
                É claro que depois que descobri da existência daquela linda mulher que era a Maya, meus pensamentos eram voltados somente para ela e admito que algumas vezes deixei que isto atrapalhasse o meu desempenho no trabalho. Eu mal pode esperar para chegar em casa e regar minhas plantas enquanto o perfume de Maya invadia meu quintal e me assombrava pelo resto da noite.
                Certo dia eu estava na calçada na hora exata em que Maya passava todos os dias e me espantei pela reação dela ao me ver em seu caminho. Ela simplesmente atravessou a rua e continuou seu caminho na outra calçada. De cabeça abaixo seguiu em frente como se estivesse tentando se esconder. Perguntei-me pelo resto do dia o porquê daquele gesto, muitas hipóteses surgiram, mas nenhuma que eu pudesse provar.
                No dia seguinte resolvi fazer a mesma coisa para ter certeza de que foi intencional e realmente, Maya, ao me ver, atravessou e continuou andando em frente de cabeça abaixo. Não sei por que motivo resolvi segui-la e o fiz.
Fechei o portão atrás de mim e comecei a andar atrás dela tentando disfarçar a minha intenção de descobrir o que aquela mulher misteriosa faz todos os dias pontualmente às 16h30min.
                Acelerava o passo de vez em quando a fim de não perdê-la de vista e diminuía o ritmo para não causar desconfiança na moça. Tentei disfarçar fingindo que falava ao celular parado em uma esquina quando ela se virou para trás. Senti-me estranho, como se estivesse fazendo algo errado, mas isso não me impediu de continuar com meu plano de desvendar este mistério.
Chegamos até o antigo centro do bairro, um lugar abandonado, de lojas fechadas, muros pichados e becos fedidos. Alguns mendigos perambulavam por ali envoltos em cobertores para espantar o frio daquela tarde cinzenta.
                Quando percebi que Maya se dirigia à porta de uma casa antiga, escondi-me atrás de uma coluna de concreto do que parecia ter sido uma padaria e fiquei ali a olhando bater à porta vermelha que em nada combinava com a casa de fachada aos pedaços e janelas de madeira velha fechadas por trincos enferrujados.
                Reparei no homem alto que abriu a porta olhando-a da cabeça aos pés, mas sem cumprimentá-la. Ela entrou e ele verificou se havia mais alguém na rua antes de fechar a porta bruscamente.
                Será que Maya tinha um amante? Seria este o mistério da mulher por quem eu me encontrava perdidamente apaixonado? Eu não podia acreditar no que meus olhos me denunciavam, eu não queria acreditar naquilo.

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